domingo, 7 de outubro de 2012

...The Phantom Gate!

Existe um muro em frente a um homem que o olha cegamente. O muro é alto e praticamente impenetrável. A sua estrutura é de tal maneira assustadora que a felicidade desse homem não se atreve a sair pelos poros.
Estático e incapaz de se voltar para trás, olha-o, com um curioso sentimento de estranheza, como que aquela barreira tivesse aparecido hoje, diante dos seus pés obrigando-o a estagnar a vida. Certo é que aquele muro já o acompanha desde adolescente idade, bloqueando qualquer tipo de progresso, fazendo-o cair em perdas de lucidez. A harmonia entre ele e o mundo é registada por sons, vibrações, por ecos ininterruptos que fazem da coragem e da curiosidade meras ervas que geminam num canto de um passeio, duma rua, algures.
Se a visão o engana, tornando-o alvo das maiores ilusões e gerando atitudes que a sua própria consciência rejeita, ele fechas os olhos e toca-o. A sua mão percorre-o e de imediato sente toda ira através do seu braço, fazendo-o sofrer com imagens escrupulosamente reais. E dor é tão forte que se contorce ao ouvir o choro da sua mãe, é tão penal que a saudade de um amigo o decompõe por dentro e a visão do sofrimento de um amor castiga-o atirando-o para o chão. E já castigado pela cobardia grita:  

Eu tento chegar até ti,
Mas sentindo-me impotente.
Minto e encho o peito de coragem,
Magoando-me fatalmente.
Tento espreitar pelas tuas fendas
A luz que me tentas esconder,
Ris e finges que não estou aqui.
Preferindo veres-me enlouquecer.

Já de joelhos, desgastado pela exuberante volúpia de que foi alvo, mantém a mão encostada ao muro, permitindo que este descarregue, de vez, toda a sua desorientação sentimental que o faz ver muros onde mais ninguém os vê. E diz:

Eu vou continuar a chegar até ti,
Mesmo que me sinta impotente.
Com o peito cheio de coragem
Dou mais um passo em frente.
Espreitei pelas tuas fendas
Vi a luz que me tentaste esconder,
Riste mas hoje estou aqui
E nunca mais me vais esquecer.

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