Existe um muro em frente a um homem que o olha
cegamente. O muro é alto e praticamente impenetrável. A sua estrutura é de tal
maneira assustadora que a felicidade desse homem não se atreve a sair pelos
poros.
Estático e incapaz de se voltar para trás, olha-o,
com um curioso sentimento de estranheza, como que aquela barreira tivesse
aparecido hoje, diante dos seus pés obrigando-o a estagnar a vida. Certo é que
aquele muro já o acompanha desde adolescente idade, bloqueando qualquer tipo de
progresso, fazendo-o cair em perdas de lucidez. A harmonia entre ele e o mundo
é registada por sons, vibrações, por ecos ininterruptos que fazem da coragem e
da curiosidade meras ervas que geminam num canto de um passeio, duma rua,
algures.
Se a visão o engana, tornando-o alvo das maiores
ilusões e gerando atitudes que a sua própria consciência rejeita, ele fechas os
olhos e toca-o. A sua mão percorre-o e de imediato sente toda ira através do
seu braço, fazendo-o sofrer com imagens escrupulosamente reais. E dor é tão forte
que se contorce ao ouvir o choro da sua mãe, é tão penal que a saudade de um
amigo o decompõe por dentro e a visão do sofrimento de um amor castiga-o
atirando-o para o chão. E já castigado pela cobardia grita:
Eu tento chegar
até ti,
Mas sentindo-me
impotente.
Minto e encho o
peito de coragem,
Magoando-me
fatalmente.
Tento espreitar
pelas tuas fendas
A luz que me
tentas esconder,
Ris e finges
que não estou aqui.
Preferindo
veres-me enlouquecer.
Já de joelhos, desgastado pela exuberante volúpia de que
foi alvo, mantém a mão encostada ao muro, permitindo que este descarregue, de
vez, toda a sua desorientação sentimental que o faz ver muros onde mais ninguém
os vê. E diz:
Eu vou
continuar a chegar até ti,
Mesmo que me
sinta impotente.
Com o peito cheio
de coragem
Dou mais um
passo em frente.
Espreitei pelas
tuas fendas
Vi a luz que me
tentaste esconder,
Riste mas hoje
estou aqui
E nunca mais me
vais esquecer.
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